segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Craque - Prólogo.

Tinha sido uma promessa do futebol. Aos 19 anos, estava jogando o fino. Tinha velocidade, técnica refinada e precisão no chute. Era magrinho, alvo de pancadas, mas tinha bons reflexos e esquiva apurada. Ainda assim, tinha pavio curtíssimo e, a cada pancada recebida, a fúria e o sentimento de vingança eram enormes. Envolveu-se em brigas memoráveis dentro de campo. E colecionava tantos cartões vermelhos quanto gols de placa e elogios da imprensa.

Foi alçado a titular de um grande clube sem ter completado 20 anos. Era presença certa nas seleções de base, e os mais entusiastas de seu futebol já pediam o jovem craque na seleção principal.

Comprou um BMW antes até de tirar a habilitação. Comprou a habilitação também. Comprou o amor de algumas mulheres (ao mesmo tempo) e a amizade de um sem-número de pessoas, dentro e fora do mundo do futebol. Vestia as grifes mais caras e ia nas melhores boates. Passou a ser figurinha fácil nas noites da cidade.

Seu futebol continuava prestigiado. Uma sondagem da Itália lhe garantiu um aumento substancial, e ficaria no Brasil até o ano seguinte. As noitadas se intensificaram. O clube abafou diversos escândalos, mas as faltas nos treinos matinais e as constantes fugas da concentração passaram a comprometer o grupo. Os jogadores mais experientes - e bem menos badalados - acusavam o treinador de permissividade. O craque desdenhava dos velhos ídolos do passado e se projetava como herdeiro da 10 canarinho.

A imprensa esportiva celebrava o craque folclórico. A imprensa marrom, o craque dos escândalos. A soberba já começava a incomodar companheiros e adversários. Os carrinhos passaram a ser cada vez mais duros - e mais altos. Chegou a sair chorando de campo em três oportunidades, só naquele campeonato. Pela primeira vez, ficara de fora por 1 mês devido a uma lesão por pancada.

Certa feita, numa goleada em que tinha marcado duas vezes, passou o pé por cima da bola, gingou pra lá e pra cá, e tomou um carrinho maldoso por trás. O adversário foi expulso. Dizem as más línguas que um companheiro pensou alto um "bem feito".

Ficou 1 ano sem jogar, recuperando-se da fratura em três lugares na perna direita, que lhe custou um contrato milionário com o clube italiano, uma convocação para a Copa América, e uma dor que o fez chorar. A dor de ver sua carreira - sua vida - ruirem em um instante.

Continua...

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