segunda-feira, 8 de junho de 2009

Olhares

Transaram de quatro. Para não cruzarem o olhar e se lembrarem da merda que estavam fazendo. Pra ela não olhar pra ele e lembrar da amiga sacana em que se transformara. Pra ele não olhar pra ela e reconhecer o cafajeste que vinha sendo há alguns meses, alimentando uma traição iminente. Apesar da certeza da sacanagem, não iam parar. Naquele momento, e em todos os subsequentes, iam evitar pensar nisso o quanto pudessem. E eram bons nisso.

Terminaram o sexo. Ela deitou de bruços, ele deu uns beijos nas costas dela, até o pescoço. Daí levantou-se e foi pra cozinha beber uma água. Ela não gozou, mas achou boa a transa. Melhor do que geralmente era com seu ex-namorado. Virou-se na cama e viu a foto da esposa dele na mesinha. Não eram melhores amigas, mas eram próximas. Conviviam muito juntas no trabalho, mesmo atuando em áreas diferentes. Em festas, costumavam contar certas intimidades uma à outra, com o advento do álcool.

Ela pensou isso tudo em uma fração de segundos. Levantou, procurou a calcinha. Vestiu. Procurou todo o resto de suas coisas e aprontou-se para ir embora. Ele, da cozinha, ouviu a movimentação e gritou se ela queria água. Ela não gritou de volta. Foi até a cozinha e disse que não, e que estava indo. Ele disse tudo bem, apanhou um short no varal e a acompanhou até a saída. Na porta, o olhar deles se cruzou pela primeira vez desde que foram pra cama. Era um olhar de cumplicidade. Não iriam comentar nada com ninguém. Muito menos entre eles. Pacto selado. E velado.

Seria melhor assim, e seria por algum tempo, até enjoarem. Porque ninguém iria descobrir, não havia sentimentos que denunciassem. Não havia obsessão. Só um tesão satisfeito eventualmente. Sem frustrações. Nunca se envolveriam. Ele achava ela uma piranha, ela achava ele um escroto. E viviam essa fantasia um para o outro, alimentando seus desejos mais escusos.

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