Ele saiu do banho e não a encontrou no quarto. Procurou na sala e nada. Começou a se preocupar. Subiu até o terraço. Encontrou ela lá, encostada no parapeito, olhando um olhar perdido pro horizonte da cidade, que daquela altura era só uma massa disforme de cores e luzes, sem foco e sem direção. Vestia um moletonm dele por cima da camisola. O inverno mostrava sua cara naquela noite fria de junho.
Ela chora de mansinho enquanto bebe algo quente numa xícara. Ele sai no terraço de pijama mesmo e abraça ela por trás, carinhoso, beijando na orelha e na nuca. Ela sorri um sorriso tristonho. Ele traz ela pra dentro da cobertura e fecha a porta, espantando o frio.
Ele deita ela no sofá e pega a xicara. Cheira e o cheiro lhe queima a narina. No aparador do lado, uma garrafa aberta, e pela metade, de uísque. Ele senta no sofá e acomoda a cabeça dela no colo. Passa os dedos entre os fios de cabelo dela. Ela começa a chorar.
Ele sente no choro dela o seu próprio choro contido, numa força que ele não sabe se tem, mas que é necessária pra não fazê-la desmoronar. Ele é cúmplice na dor mas tenta não aparentar pra ser estímulo à recuperação. Isso só faz a sua própria dor latejar ainda mais. Não se contém e chora. Ela o abraça firme. A verdade é que lhe faz melhor saber que ele compartilha do mesmo sofrimento que ela. Sente ali o companheiro. Na alegria e na tristeza.
Modus operandi da escrita
Há 9 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário