sábado, 7 de fevereiro de 2009

Casanova da zona sul

Comprou o jornal do dia e foi direto na programação do cinema. Era uma época de poucas novidades interessantes nas salas da cidade. Época pós premiações, só filmes obscuros estreando. Pulou para a coluna dos teatros. Uns títulos curiosos, mas nem por isso atraentes. Mania de dar títulos enormes às peças. O preço também não era nada convidativo. Ligou para um teatro onde a peça de uma atriz veterana e muito premiada estava em cartaz. Esgotada.

Um jantar seguramente estava no cardápio da noite, mas precisava de algo mais. Jantar, seguido de subir no apartamento para ver um DVD ou escutar uns discos seria muito atrevimento. Primeiro encontro, precisava de outra abordagem. Com cineminha ou teatro de fora, estava sem imaginação para pensar no que poderia combinar com o jantar. Antes ou depois dele.

Motel passou-lhe pela cabeça. Riu, debochando de si mesmo.

Uma exposição, um museu... tinha medo de parecer pretensamente intelectual e pôr tudo a perder. Boate... achava que já tinham passado da idade. Quem sabe um show? Foi olhar o que estava passando nas casas de show mais tradicionais, que têm mesa e garçons servem bebida e comida. Um espetáculo de comédia em uma, um show sertanejo em outra. Desistiu.

Já estava se sentindo fora de forma na arte do flerte, mas agora sentia-se muito pior na arte do encontro. Aos 64 anos, recém divorciado, parecia que tinha desaprendido tudo o que lhe fizera ser o Casanova da zona sul aos 20 e poucos.

Foi quando seus olhos brilharam, e percebeu o que precisava para fazer daquela noite, uma noite especial e inesquecível. Retomou o velho Casanova que era, tornando-se novamente o Casanova que fora.

Um jantar, seguido de um baile dançante no La Plata. Sabia que lá conheceria as músicas, saberia os passos de dança. Rejuvenesceria, não adequando-se ao hoje, mas voltando à sua própria juventude. E poderia mostrar que, 40 anos depois, ainda batia ali um coração ritmado ao som de Gardel. Como na juventude. Como nos tempos do Casanova da zona sul.

Um comentário: