segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O morto

Mataram um cara na frente do prédio. Um cidadão banido do morro que estava tentando voltar. Não deixaram subir nem 20 metros. Quatro tiros certeiros. Só ouviu os balaços da sala. Aquele medo cercado de dúvidas. Foi tiro? Bombinha de São João? Fogos? Bola batendo no portão de ferro? Uns minutos de expectativa por mais barulhos. Nada. Então não foi tiroteio.

E não foi mesmo. Execução pura e simples. Olhando pela janela, o corpo. Caído no chão, ensanguentado. Não se vê muitos detalhes do sexto andar, mas o suficiente para se constatar que há um homem assassinado na calçada oposta. Pouco tempo depois, parentes desesperados chegam, aos berros de um choro descontrolado. Sem pudor nem asco de tocar no corpo sem vida, manchando-se de sangue e lágrimas.

Do alto, distante e distanciado pelo vidro da janela, a visão não é repulsiva. A janela emoldura a cena e emula uma imagem de televisão. A respulsa é substituída por um certo fascínio mórbido. O impacto da visão já se perdeu em meio às doses de realidade avizinhada exibidas na TV. Nunca tinha visto um corpo morto antes, ao vivo. Mas do alto do sexto andar, e atrás da janela, o ao vivo parecia uma imagem do jornal.

Só o choro desesperado dos familiares parecia real. E era isso que angustiava mais.

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