terça-feira, 14 de abril de 2009

Paredes pintadas

Ele acordou com a claridade que entrava pela janela sem cortina do apartamento. Pelo menos não era o sol batendo ali de manhã. Era a única vantagem de se ter um apartamento com o sol da tarde. Mas ele sabia que, na hora de ver televisão depois do almoço, iria condenar esta vantagem. E pensou, por um instante, em como seus paradigmas mudavam com freqüência.

Olhou pra ela, deitada ali ao seu lado, sonhando embaixo dos olhos num sono de fábula . Nua, coberta com o lençol que lhe moldava o corpo levemente arrepiado de frio. Na aurora matinal, a visão era romântica, sem o erotismo da noite anterior. Era cândida.

Ele acendeu um cigarro. Tragou uma vez e soprou em direção à janela aberta. Pousou o cigarro no cinzeiro sobre o criado mudo ao lado da cama e curvou-se em direção a ela. Beijou-lhe a nuca, em cima da tatuagem de ideograma japonês. Sentiu que a pele dela arrepiou, beijou de novo. Os ombros se encolhiam. Escutou um sorriso. Ela virou-se pra ele, olhos abertos, sorriso no rosto. Beijo de leve, nos lábios. Ela levantou e levantou ele junto.

Ele elogiou a parede laranja. Ela corrigiu: salmão. Quando ela tinha sugerido, ele achou que iria ser alguma coisa mais para rosa. Assim estava bem boa, ele disse. Ainda faltavam alguns móveis, quase todos, na verdade. Ela colocou um vaso com flores. Ele comprou uma antena pra televisão. Ela chamou ele pra sentar do lado, enquanto passava um seriado bobo na tv.

Ele achava lindo quando ela vestia uma camisa dele. E só isso. Abraçou-a e avisou que tinha comprado, também, sucrilhos e leite no dia anterior, pra ela tomar café da manhã, mesmo acordando às onze e meia. Ela achou bonitinho.

E o cigarro continuava queimando encostado no cinzeiro.

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