domingo, 12 de abril de 2009

Pacotão Série B

Tinha comprado o pacote do campeonato brasileiro. Por 50 reais ao mês, não perderia nenhum jogo do seu time. Iria abdicar de algumas cervejas, iria a pé ao invés de tomar ônibus, iria mandar menos torpedos pelo celular. Por seis meses.

A expectativa era que esses pequenos sacrifícios fossem suficientes. Se a coisa apertasse, miojo no almoço e no jantar. Mas valia a pena. Voltaria a acompanhar os jogos do seu time. Transformaria sua sala num camarote do estádio.

Mesmo de longe, estava por dentro da escalação, lia as notícias no site, ouvia reportagens na rádio online. Bendita internet! Mas, agora, nos jogos transmitidos na TV, poderia ver pelo quê estava torcendo exatamente. Agora, uma vez por semana, seu dia seria reservado para o seu time.

Na hora do jogo, um ritual particular. Telefone desligado. Bandeira pendurada na janela. Flâmula na mão direita. Camisa do último título vestida no corpo. As outras várias espalhadas no sofá.

E só ele na sala. Não queria torcedores emprestados, muito menos secadores. Se não era para ter seus irmãos-de-manto ao lado, não queria ninguém. Porta trancada.

Conseguia ver o jogo. Analisava o time. Discutia as jogadas. Xingava o juiz. Comemorava gols. Chorava derrotas. Mas não tinha a mesma graça.

Não tinha um desconhecido para abraçar pelo simples prazer de comemorar um gol numa euforia compartilhada pela massa. Não tinha alguém que conversasse do jogo – ou da história do time – e soubesse quem eram aqueles jogadores. A torcida era mais murcha ali naquela sala.

Mas era melhor assim do que sofrer a ausência de ver aquele time, mesmo pela TV, mesmo capenga, mesmo em má fase, entrando em campo. Aquele uniforme, aquelas cores. Era o dia que ele mais aguardava durante a semana inteira.

Um comentário:

  1. Eu interpretei "Tinha comprado o pacote do campeonato brasileiro - série B".

    ResponderExcluir