sexta-feira, 6 de março de 2009

O homem com dois corações

Tinha dois corações. Num avanço incrível da medicina, o natural e debilitado servia para conter a alta pressão de sangue nos pulmões, fruto da hipertensão pulmonar. O transplantado iria bombear o sangue pelo corpo, coisa que o antigo não conseguia fazer por conta de uma miocardiopatia dilatada.

Viveu assim tranquilamente. Os corações batiam em ritmos diferentes, era divertido escutar o ritmo funkeado que os dois corações faziam em conjunto. Tinha duplicado a chance de infartar na vida, mas também podia pensar que tinha um sobressalente para emergências.

Mas os corações, mesmo unidos por um tubo, e trabalhando para o mesmo corpo e cérebro, eram corações diferentes. Um se apaixonou pela vizinha cuidadosa que lhe fazia canja nas noites de frio. O outro, mais antigo na casa, amava a ex namorada ainda. E, com o problema de saúde, ela passara a visitar mais vezes.

A miocardiopatia dilatada aumentava o tamanho do coração, dando mais espaço pro amor à ex. Mas, por outro lado, a doença enfraquecia o músculo. O coração novo era menor, mas tinha mais força pra impulsionar o amor pela vizinha caridosa.

O cérebro se via confuso porque liberava as substâncias ligadas ao amor e à paixão duas vezes ao dia, descontroladamente. Os olhos vidravam para duas pessoas diferentes, o corpo suava mais que o normal. Essa confusão corporal era caótica para os órgãos, mas ele até que gostava. Tinha as boas sensações do amor duas vezes. O frio gostoso na barriga, o sorriso bobo perdido no rosto. Tudo dobrado.

E ainda tinha uma excelente e convincente desculpa para ter duas mulheres ao mesmo tempo em sua vida.

2 comentários:

  1. faltou um bom final....

    mas está ótimo!

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  2. Eu li a reportagem que provavelmente te inspirou!

    eu curto isso de ter dois corações. Um pro Mengão, e outro pro Voltaço :P

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